Quilates de sabedoria                  


Refletindo sobre a vida, sinto uma dor tórrida como fogo que arde em meu peito, inebriada de conflitos existenciais capazes de amargar o mais afetuoso coração de um leitor, que consiga perceber as nuances nas análises desta humilde escritora que vos dirige a palavra.
Vou sendo levada por uma consciência inexorável, dia após dia, meditando sobre; quem sou e qual o propósito com o que vou me tornando, na medida em que os anos vão se passando vejo-me confrontando a ideia de que sabemos muito mais hoje, do que quando éramos adolescentes como é óbvio, e inevitavelmente lembro-me do meu pai a dizer melancólico:
“Ah se eu tivesse a sua idade, sabendo e lendo a vida como sei hoje, quantas coisas não conquistaria?”
Lamentavelmente chego à conclusão, de que essa existência não foi feita para ser vivida com entendimento e percebo que a vida foi feita para um pouso leve, débil, tolo, de homens sem conhecimento, sem sensibilidade e sabedoria. 
Ahh! S A B E D O R I A, essa palavra de nove letras deveria vir antes da chupeta, deveríamos ganhar uma prenda com um pequeno saquinho de sabedoria assim que nascêssemos e em todos os aniversários subsequentes, uma pequena porção do tamanho de uma colher de chá por ano seria libertador, entretanto, não, não é permitido! Corremos como cavalos selvagens por toda uma vida frenética e avassaladora, tropeçando em nossos próprios pés, dobrando esquinas escuras da mediocridade, indomados, bêbados de vergonha pelas escorregadelas inerentes ao pouco conhecimento da vida em seu aspecto profundo e humano. Passando ano após ano, sufocados em expressões matemáticas que tentam dar alguma exatidão aos aspectos relativos da vida, ensinando os jovens a desvendarem os números incógnitos da álgebra enquanto não adquirem qualquer conhecimento sobre as expressões do amor e compaixão.
Segundo John Nash : “É somente nas misteriosas equações do amor que qualquer lógica ou razão pode ser encontrada”  ou ainda, estudando biologia, nada coesa com a grande sutileza e delicadeza da alma humana, descrevendo característica físicas e biológicas do corpo humano, suas veias, artérias, células e cromossomos sem nenhuma compreensão genuína do que se passa por dentro, bem mais lá dentro, naquele núcleo onde o homem  jamais terá domínio, mas que implacavelmente rege a orquestra de tudo o que pode ser visto do lado de fora e que é tão pouco conhecido.
Uma geração ansiosa como nunca houve, que ignora um aperto de mão e nem sequer escuta o bom dia de um vizinho, entrando afoitos no comboio para não perder a partida de futebol, cegos e afogados pelos hormônios meticulosamente manipulados pelo cientista do universo, dado em doses homeopáticas de entusiasmo e adrenalina, provocando efeitos de rubor, coração acelerado, inquietação e mente confusa, alterando física, cognitiva, social e emocionalmente os seus mundos e o mundo a sua volta, ganhando em contrapartida a combustão para a propulsão necessária e essencial, afim de forjar a matéria e o espírito numa tempestade de descobertas e vivências que então, numa fusão do passado e o  presente, moldarão o caráter e as experiências necessárias para no futuro, corroborar a ideia ; de que o tempo cumpre o seu propósito com excelência em aperfeiçoar e extrair como uma prensa a verdadeira e genuína sabedoria que enxergamos na velhice.
E quando chegamos lá, no ápice da sensibilidade e conhecimento, quando nosso entendimento do mundo e humanidade se tornam imensamente vastos e palpáveis e sentimentos como bondade, gentileza, devoção, compaixão, doação e altruísmo passam a ocupar noventa e nove por cento dos nossos pensamentos e o entusiasmo pela vida consegue atingir o nirvana, não conseguimos colocar em prática, porque o impensável acontece!  Ficamos atônitos como se estivéssemos na beira de um lago de águas cristalinas e frescas no meio do deserto, sem que dela possa-se beber, vendo-a se afastar cada vez mais e mais para longe enquanto ardemos em calor e sede.
Nossos corpos não respondem mais, nossa vida existencial caminha para o declínio e nos afligimos porque entendemos, enfim, nós entendemos o sentido de muitas coisas, entretanto, não adianta, está se findando. A fragilidade da matéria não conseguirá dar conta de tantos anseios e enfim, a sabedoria que acumulamos dança em nossas mentes como dois apaixonados num baile de 15 anos. Por isso falamos, ah… como falamos!
Falamos com nossas mãos frágeis, envelhecidas decrépitas e trêmulas, falamos aos netos, bisnetos, vizinhos e aos enfermeiros. Falamos ás crianças que sorriem animadas com nossas palavras balbuciadas com sofreguidão, falamos aos jovens que não nos escutam, falamos com filhos que tem pressa em viver e salvar seus pequenos delinquentes num ataque de nervos, falamos e falamos, ainda que o mundo não nos ouça mais nós continuamos falando, porque transbordamos o precioso e valioso poder do conhecimento e sagacidade, extravasamos por todos os poros de nosso corpo experiências e predicados, por isso temos pressa de falar antes que a vida se finde, falamos e ficamos catatônicos porque acumulamos como frutas caindo aos montes dos pés sem serem colhidas , sem nenhuma alma para alimentar. E para que? Já não nos escutam! Estamos velhos, uma peça de museu a ser contemplada calada, elevada por sua grandiosidade e seus feitos em vida, que só passarão a terem o devido valor quando estiverem enterradas a sete palmos na terra.
Porque vão a museus admirar a genialidade acumulada, calada e silenciada?  Será uma ordem do criador? Segredo de estado? Quando abrimos a caixa de pandora precisamos ser silenciados e por isso, quando estamos a pleno vapor já não nos ouvem mais, os ouvidos ensurdecem tapados por alguma cera proposital. Queima de arquivo? Sabe demais, precisa ser eliminado antes que alguns segredos sejam descobertos e a lei do altíssimo esteja em risco, se manterá imóvel, apático, estagnado em seus pequeninos olhos cobertos por uma fina camada de membrana flácida de pele, escondendo o quanto possível aquele brilho revelador de outrora, enquanto souber demais se manterá calado, pois não será permitido tolher dos jovens a experiência de sofrerem suas próprias dores e demandas.
Não repouso em berço esplêndido nesta máxima, porque não acredito nela, apesar de ela ter tresandado pelo meu inconsciente algumas vezes. É razoável pensar que este também seja um ponto de vista desprezível e sem qualquer sensibilidade diante do vasto conhecimento da grandiosidade de Deus em sua infinita bondade, amor e graça.
Prefiro outra perspectiva, se é que me permitem abusar de vossa confiança, crendo na versatilidade de contemplações a qual os meus leitores serão capazes.
Confesso que uma teoria um pouco mais animadora culminaria no sentido de enveredar pelo conceito de que; Quando atingimos esse nível de conhecimento e nitidez da vida, entendendo que essa vida nos foi atribuída temporariamente, podemos descansar na concepção de que Deus nos recolhe para si a fim de usarmos tudo o que aprendemos, dando continuidade a essa evolução em outro plano. Num plano capaz de compreender e abrigar toda esta sabedoria canalizada em nossa alma, tornando deste modo a terra muito insignificante para nós e por isso, exatamente por isso, somos recolhidos junto ao pai a fim de atingirmos o ponto mais alto de nossa elevação espiritual e explorarmos nosso saber a níveis desmedidos da experiência humana, que só é possível ser alcançada quando estivermos livres desta matéria débil e limitada que chamamos de corpo. Livres desta carne lascívia que sente dor, fome, frio, desejos etc. Livres destas correntes que inibem nossa evolução em total plenitude.
A sabedoria ora adquirida esculpida nesta vivência terrena, não se finda neste plano, a vida real e para qual nós fomos criados verdadeiramente, começa quando termina por aqui. Estamos apenas num estágio mal remunerado, somos estrangeiros, visitantes deste plano nos profissionalizando e sendo lapidados para quando voltarmos para nossa casa, que está infinitamente além de nossa compreensão.

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