Despedida


Um sinal de mensagem chega com um som familiar, um sinal sem aviso prévio como outro qualquer, inocentemente você abre a mensagem que pode ser desde um lembrete para não esquecer do pão, ou de repente, alguma coisa como um “nunca mais” ou um, “até breve” que te enfiam goela abaixo para você digerir sem água para ajudar.
Mensagens desse tipo nunca deveriam chegar sem um sinal de; ALERTA! ALERTA! Máscaras cairão automaticamente à sua frente, encaixe-as em seu rosto, respire antes, sente-se e respire de novo, procure alguém da sua confiança para estar junto de ti neste momento, em caso de pouso no mar, botes salva-vidas estarão embaixo do assento.
Onde estão os botes salva-vidas agora? Encontro-os numa caixa de Alprazolam de 0,5 miligramas na minha maleta de emergências no banheiro.
A inteligência artificial precisa se atentar a isso com urgência, antes de recebermos mensagens desse tipo, quando detectarem palavras como “faleceu” “velório” “vá em paz” etc… devem pelo amor de Deus interceptar essa mensagem e certificar-se antes, que o receptor está devidamente acompanhado e em segurança, mas não, de repente um solavanco no peito, um zunido nos ouvidos e o mundo silencia.
Nosso irmão estava bem e teve um mal súbito a caminho do trabalho, sentiu-se mal e não deu tempo, veio a falecer às 14:35h deixando a família e amigos em profunda consternação.
Ninguém está preparado para um mal súbito, como assim súbito? Como assim ele partiu? Falamos ontem, tínhamos marcado um jantar, isso não pode estar acontecendo…
As lágrimas começam a descer, você lê novamente a mensagem, mas não acredita e nunca vai acreditar na verdade, nunca estaremos preparados para a dor de enterrar alguém que amamos.
Desde o que dia em que nascemos temos a certeza de apenas uma única coisa, todos vão morrer, mas num ímpeto de esperança acreditamos que quando isso acontecer estaremos todos velhos, numa roda de conversa, já tão senis que a morte começa a parecer um bálsamo ao cansaço da nossa existência.
Não conseguimos aceitar quando um homem de 44 anos em sua fase mais pujante, parta desta vida. Um homem de fé, servo do senhor, trabalhando incansavelmente pela construção de um templo de evangelização em prol de restaurar vidas e converter corações, um homem de caráter irretocável, com os braços sempre abertos para acolher cada alma que chega em busca de conforto e superação.
O mundo fica estranho, parece que entramos num portal onde tudo passa em câmera lenta ao seu redor, você pode ficar horas parado observando atônito o farfalhar das folhas numa árvore, que parecem estar de braços abertos num clamor insistente dizendo: – Eu estou aqui, acalme-se!
A mente converge para um estado de espírito onde nada mais parece fazer sentido ao seu redor, brigas, descontentamentos, dinheiro, carros, roupas, disputas, nada mais tem qualquer importância.
Por que só nestes momentos temos a real percepção da importância de cada segundo em nossas vidas? Por que só neste momento refletimos sobre as nossas prioridades? E esse sentimento irremediavelmente até dura alguns dias, mas logo as ondas da vida começam a nos afrontar e começamos novamente a saltar e saltar, como se não houvesse amanhã, ou como se esse dia nunca fosse efetivamente chegar para nós.
Ligamos novamente o piloto automático por estradas desconhecidas, sem sequer pararmos para olhar a beleza da vida que corre ao nosso redor, as risadas das nossas crianças, o prazer de um almoço em família, a preciosidade de uma tarde de domingo junto aos que amamos.
 Sinto os meus pés flutuarem, o chão já não está ali e insistentemente o sol nasce mais brilhante do que em qualquer dia e olhando para o céu em busca de uma resposta, me dou conta de que ele nunca esteve tão azul, como que dissesse:
– Eu continuarei a brilhar! E aquilo me incomoda um pouco. Por que o Sol, está brilhando tanto? Por que os passarinhos estão gorjeando alegres ao meu redor? Por que a brisa parece tão fresca e doce nesta manhã? O meu mundo está escuro e vocês todos em meu entorno se refestelam em minha dor? Que senso de humor é esse? Por que gorjeiam? Por que o céu está tão bonito hoje? Por acaso pareço querer ir à praia? Apaga essa luz por favor, me deixem no escuro do meu sofrimento! Parem com a cantoria, não há motivos para tanta felicidade!
O brilho é tão intenso e depois de tanto chorar, a luz do sol irradiante queima minhas retinas e meus olhos nem se abrem mais de tanto esgotamento, tristeza, choro e melancolia.
Cada abraço caloroso dos amigos, cada choro, cada brado ansioso de socorro, parecem quebrar as fibras da razão e exercem com excelência um reparo na alma em doses homeopáticas, que vão lhe permitindo pouco a pouco, submeter-se as etapas a seguir, na dolorosa cerimônia de despedida, a qual não estamos preparados para suportar e jamais estaremos.
Sento-me ao lado da esposa amada que tem a voz embargada por tanto sofrimento, eu sinto que deveria ser capaz de lhe oferecer algo neste momento, deveria ser capaz de abarcar o seu tormento, de arrancar-lhe do peito este fardo sem fim neste dia sombrio, mas não sou capaz, nada do que eu possa oferecer lhe trará algum acalento, porque estou longe de entender os propósitos do criador.
Junto as minhas mãos quentes às suas, porque meu calor está presente e a agracio nesta troca de vibrações, como seu eu pudesse absorver e filtrar um pouco da sua angústia e numa sinestesia, seja possível metabolizar a dor em minha alma, no intuito de devolver gotas de esperança numa hemodiálise de amor intenso. Lhe toco com delicadeza e envolvo meus braços em torno do seu pescoço, encostando meu coração junto ao dela a fim de que ele comunique o que não sei comunicar, para que as batidas presentes em ambos os corações sintonizem a mesma canção e lhe consiga de alguma maneira, trazer o conforto que meus lábios não conseguem expressar e dizer com sabedoria e resiliência, que estamos juntas, no mesmo tom, na mesma causa ad aeternum.
Tenho certeza de que, quando as palavras não conseguem abarcar com exatidão o que precisamos proferir naquele momento, o coração se incumbirá de trabalhar com primazia na resolução de situações, em que não há uma centelha de entendimento e compreensao do modus-operandi do nosso criador, entretanto, há uma certeza em nossos corações, de que ele trabalha e opera a todo minuto para nossa felicidade e que somos frutos do amor incondicional e absoluto que ele tem por nós.
Neste sentido, precisamos ter fé de que o tempo será sábio em cicatrizar ou atenuar as dores dilacerantes que nos submergem agora e que elas possam de alguma maneira, nos tornar sensíveis para aprender a lição preciosa, de que neste tempo de agora, não há tempo a perder.

                                                          

Nosso amado amigo; Wagner Nogueira França (In memoriam).

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