Noite sem fim – Diário de um solitário
O silêncio chegando, já se avizinha a hora de ir dormir …
Me apego a um livro, me enrosco num filme, tento prorrogar porque não há ninguém neste lugar.
Parece que enquanto eu puder postergar, estarei segura.
Como num barco em que já se sente a marola, prevejo a tempestade que está por vir, vou então em busca de algo para comer como se as últimas gotas de estabilidade eu pudesse sorver, olho para o relógio ansiosa, já está tarde! Preciso entrar na tempestade, hora de embarcar. Procrastino mais um bocado, ainda tenho que lavar o rosto, escovar os dentes, ainda tenho alguns minutos antes de doer! Entretanto, não adianta, entro no quarto vazio como se habitasse sozinha a imensidão do mar, num lugar frio e triste, já não consigo suportar!
Falo com meus pensamentos, não preciso de nada, tenho Deus, estou bem! Tento enganar-me.
Mergulho nos lençóis frios e inóspitos, que tocam delicadamente a pele rígida, débil e melancólica, já não escuto mais o tilintar dos talheres que me faziam companhia e nem o apresentador do jornal que me tirava da realidade para longe do umbral, já sinto a dor me queimar, como ondas dilacerantes que me enrolam sem ar e esperança.
Remexo os meus pés de um lado ao outro, procurando a presença e o calor de alguém que não existe. Aperto contra o peito a coberta como se pudesse apaziguar a imensidão da solidão…
Tristeza sem fim, o corpo chega a doer.
O coração aperta , uma lágrima desce sem que possa controlar, daria o mundo para que naquele lugar pudesse ter alguém para amar.
Aperto mais uma vez , engulo o choro, um calafrio de sensações , um arrepio na espinha…
Abro os olhos , olho para o teto e de novo para o lado , puxo o travesseiro que está sobrando , o travesseiro de alguém que poderia ser meu marido querido , um grande amor, um amigo ou mesmo um namorado.
Está vazio ! Não vou deixá-lo ali sozinho também.
O que não quero para mim, também não desejo a ninguém.
Então, agarro-o com força, puxo-o para perto, coloco-o ao lado do meu rosto como se o pudesse proteger, pelo volume até poderia ser uma pessoa.
Abraço-o com carinho, devagar, contra o meu peito e digo bem baixinho:
-Boa noite meu bem.
